Cheiro de mar

13 de Dezembro de 2017

Sentada na cadeira de sempre, no quarto de sempre, fazendo o de sempre. Escrevendo sobre romances que ainda arrepiam minha pele e lamentando os erros que não podem ser reparados. Ou podem, a gente vai descobrir no final.

Há dois anos, juro, me veio a ideia de um livro. E quanto mais eu pensava, mais aquilo me deixava em êxtase, porque era como viver a história. Falava de um cara que chegou pra fazer bagunça na cabeça de uma mulher, mas uma bagunça boa, sério. Ela, com seu jeito organizado e metódico, mascarava a vontade de conhecer o mundo e fazer umas loucuras. Ele, largado e livre, a desmascarava.

Hoje pensei em escrever sobre você e me deparei com a ideia acima, inacabada em meu notebook. Foi então que caiu a ficha, porque eu escrevi sobre nós antes mesmo de termos nos conhecido.

Quando te vi pela primeira vez, eu pensei “estou ferrada”. Pensei isso dia após dia, a cada conversa, a cada vez que nos aproximávamos mais. Naquela noite, depois de algumas doses e revelações sob pressão alcoólica na praia, você apareceu para se juntar a mim. Dessa vez não pensei, só deixei seu encanto me guiar.

Com a meia luz, tocamos nossas mãos e nos olhamos, bem no fundo. Não sei se me perdi pela beleza dos seus olhos ou por estar embriagada, mas eu gostei. Era provocante e pela primeira vez em um longo tempo senti a paixão me consumir. Então aconteceu, um beijo sufocado de proibição e desejo.

No dia seguinte estava tudo bem. Não precisava haver constrangimento ao ficarmos abraçados na cama esperando a preguiça passar ou quando ficamos no sofá, um mostrando suas músicas preferidas para o outro.

Quando me abraçava, era como se o mar estivesse me abraçando. O quão bom é o meu cheiro perto do seu? Cheiro de areia, da água. Cheiro de mar. A imensidão me apavorou, mas não há um dia em que eu me arrependa, não há um dia em que eu não queira mergulhar de novo em você.

Essa é a diferença da realidade para aquele enredo fictício que criei. Eu não me permiti fazer a viagem que você propôs, porque não acreditava estar preparada. Pelo contrário: fiz minha mala e fui embora bruscamente. Depois da partida, na rotina da vida, ouço a banda que você me apresentou me deliciando com as lembranças que você também me deu.

Romantizo cada olhar, palavra ou gesto, esperando que faça o mesmo em noites à toa. Se acha que não passou de acaso, apenas diga para ele te trazer de volta. Dessa vez, sem pedir e sem pensar, eu fujo com você.

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