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Mostrando postagens de maio, 2023

Tudo em você me intimida

Não diga que eu sou boa com as palavras, isso soa patético vindo de alguém como você. No começo eu não percebi, achava que era só o costume de uma escrita perfeita, mas cada vez mais tudo o que eu lia me envolvia, me consumia, me intimidava. Desde o seu 'bom dia' às palavras mais perversas. Era como se eu, finalmente, tivesse encontrado quem fala a linguagem que aprecio. Aos poucos me vi perdida nesse dilema da intimidação e apreciação, porque eu precisava agora estar à sua altura, respondendo de forma poética e envolvente a cada investida. Isso me fez ter medo e me sentir insegura, mas quando é que eu não me sinto assim? Sempre evitando as partes boas e pulando para as partes ruins. Foi exatamente isso o que pensei naquela mesa de bar, quando você pediu licença pra ir ao banheiro. Invadida pelo encanto dos seus olhos, pela forma como você falava e gesticulava tão despretenciosamente excitante, me lembrei do prazo disso tudo, porque sempre tem um prazo. Com amargura notei uma l

Aquela tarde

Quando penso em um dia feliz, me teletransporto para aquela tarde. Um clima não muito frio, mas também não muito quente. Você me oferecendo o que eu amo tomar: um café. Sem pressa, com conversa. Falando trivialidades, como se fosse comum essa dinâmica entre nós. A constatação de que seria perfeito: janela aberta, cortina esvoaçante com a brisa... Ah, a brisa! E sob a luz amarelada daquele céu, mais conversa. Até que nossas bocas suplicaram e não houve mais o que fazer a não ser ceder. Ceder ao beijo sufocado que a gente sempre tem que reprimir. Ceder às mãos curiosas que a gente sempre tem que controlar. Ceder ao seu peso em cima de mim, que é sempre o melhor jeito de começar. Só que nas vezes imperfeitas você virava o rosto de vez em quando, voluntária ou involuntariamente. Não agora. Não nessa vez perfeita em que eu te peço: quero que olhe pra mim quando terminar. E você obedeceu, olhando na minha alma com aqueles lindos olhos claros, com a feição de quem me devorava a cada centímetr

Geminiano - 3/3

Lado a lado ouvimos cada um dos outros declamando o que escreveram. Eu tinha separado um texto sobre você e sobre o quanto eu sentia raiva. Fiquei na dúvida se mantinha o tema ou trocava por algo mais imparcial. Mas percebi que  não posso não preciso e não quero mudar e me blindar. Vou continuar dizendo verdades nuas e cruas. Depois de ler me sinto aliviada. Eu não gritei, não fiz cena. Só li com exaustão. Você ficou ouvindo na defensiva, mas quando me sentei, segurou minha mão e isso me fez me sentir apaixonadamente idiota. Um pedido de desculpas  rápido e vago, como você. Então eu ouvi. Estavam me chamando. Olhei em volta, mas não vi ninguém. Me chamaram de novo, e de novo. "Ela deve estar cansada", disseram dessa vez. Bem no fundo, como uma voz distante na minha cabeça. Então acordei,  ainda na sala de leitura, ainda no encontro literário. Mas você não estava lá. Tudo não passou do meu cansaço pela espera e da minha imaginação, pregando mais uma peça, mais uma vez. O celul

Caos

9 de Março de 2019 Você tem razão e é fácil admitir. Ando oscilando demais, me perdendo demais, me pendendo sob uma corda que separa o seguro do assustador. Mas, não reclame tanto assim. Foi essa parte assustada que prevaleceu e fez com que tivéssemos nossos momentos. Só nossos. Chega de perguntas ou pedidos pra que eu fale com sinceridade. Vou fazê-lo e quem sabe agora você não me entenda. Era pra ser assim: Nós, insanos, sem controle e sem entendimento, porque eu sei que você também oprime seu lado mais escuro. Quero conhecê-lo sem que ninguém tente decifrar meus pensamentos ou conhecer meu passado. Eu não preciso de carinho, ou de um amigo, ou de alguém que se importe. Guarde suas palavras bonitas, porque você sabe: eu só queria uma foda forte. Corpo e mente, pode vir sem medo. Me deixa em pedaços pra que então eu possa me (re)construir daquela forma mais sólida que você mencionou. Seja o meu motivo, porque assim eu vou saber, verdadeiramente, como seguir em frente. Por isso estive

Geminiano - 2/3

Cansada de esperar, digo a mim mesma que é isso. Voltamos a ser estranhos. Paro de me perguntar se fiz algo errado, paro de olhar o celular a cada vez que ele vibra. Será que eu mando uma mensagem? Mas é a sua vez de ceder. Será que eu quero ler a resposta? Porque a dúvida é tão confortável. Torturante, mas ainda assim, uma zona segura. Arquivo novamente a nossa conversa e tento me concentrar no trabalho. Me lembro que mais tarde vou naquele encontro literário. Talvez eu leia algo que escrevi. As horas passam e eu finjo estar menos desapontada do que pareço. Caminho até a sala de leitura, sento e espero. Mais uma vez cansada de esperar. Observando os outros chegarem, noto um rosto estranho e familiar. Estranho para o contexto, familiar nos meus pensamentos de mais cedo. Me lembro que te disse do encontro, me lembro que você disse que também gostava de ler. Calmamente, se senta do meu lado com aquele sorriso malicioso e covinhas aparecendo. Só fala: “Desculpa te fazer esperar, eu queria