Tudo em você me intimida

Não diga que eu sou boa com as palavras, isso soa patético vindo de alguém como você. No começo eu não percebi, achava que era só o costume de uma escrita perfeita, mas cada vez mais tudo o que eu lia me envolvia, me consumia, me intimidava. Desde o seu 'bom dia' às palavras mais perversas. Era como se eu, finalmente, tivesse encontrado quem fala a linguagem que aprecio.

Aos poucos me vi perdida nesse dilema da intimidação e apreciação, porque eu precisava agora estar à sua altura, respondendo de forma poética e envolvente a cada investida. Isso me fez ter medo e me sentir insegura, mas quando é que eu não me sinto assim? Sempre evitando as partes boas e pulando para as partes ruins.

Foi exatamente isso o que pensei naquela mesa de bar, quando você pediu licença pra ir ao banheiro. Invadida pelo encanto dos seus olhos, pela forma como você falava e gesticulava tão despretenciosamente excitante, me lembrei do prazo disso tudo, porque sempre tem um prazo. Com amargura notei uma lágrima tentando aparecer, mas a repreendi quando suas mãos tocaram meu ombro e você se inclinou atrás de mim, beijando meu rosto e sussurrando algo gentil no meu ouvido. 

Percebi que a consciência de que tudo tem um final não pode ser maior do que o prazer de me entregar para o agora. Então me entreguei para mais um drink, para o pedido de prolongar a noite, para você. E da forma mais meticulosa possível você não deixou espaço para o arrependimento. Eu me despi quase totalmente daquelas inseguranças enquanto suas investidas, de novo e de novo, me faziam provar sensações novas e efervescentes.

Você tinha me avisado que seria assim, mas no fundo eu achava que pudesse ser a romantização de alguém que, assim como eu, gosta de brincar com as palavras. Não foi. Terminamos a noite, ou começamos a tarde, comigo te pedindo para me ensinar a escrever como você, a tocar como você, a usar a língua como você. Sem arrependimentos, de fato, mesmo ainda me achando incapaz e não merecedora. Você continua aqui, sendo exatamente quem eu espero que seja. À essa altura vou simplesmente aceitar a intimidação, porque apesar de doer, eu quero muito mais dela.

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