Não me deixe mais sozinha do que o necessário

Não ficar mais sozinha do que o necessário. Foi isso o que eu pedi, e eu não estava pedindo muito. Já imaginava que esse recomeço teria um certo peso, que talvez te fizesse se sentir um pouco pressionado. Por isso planejei um discurso sobre não querer sua preocupação, sobre levarmos de uma forma leve e transparente, só pra esse novo 'eu' não te assustar.

O discurso não saiu exatamente como eu queria, o que não me chateou, porque estou tentando seguir o conselho da minha taróloga de não ser tão neurótica com coisas planejadas minuciosamente. Em vez disso fui sucinta e você pareceu entender onde eu queria chegar: numa relação com apego, até certo ponto, até o ponto certo.

Um pequeno deslize me mostrou com quem estou lidando. Com alguém que não vai me deixar sozinha, nos momentos bons. Só que nos momentos estranhos e delicados, você vai estar mais preocupado com a possibilidade de termos um vínculo eterno do que comigo, de fato.

E não foi só a sua reação imediata que me mostrou isso, o pós também confirmou, quando eu mencionei que não haviam riscos e você disse que não estava mais pensando naquilo, que já estava tranquilo. Eu não estava tranquila, porque termos um vínculo eterno também não é o meu desejo. Eu só não queria ficar sozinha algumas noites.

Porque algumas noites sozinha resultam em pensamentos que eu não quero mais acessar. Você não sabe sobre essa parte de mim e eu não quero parecer mais dramática do que eu já sou, então por mais que coubesse naquele momento uma justificativa profunda e verdadeira, eu preferi soar vaga e com decisões contraditórias.

Eu não queria ficar sozinha, também não queria ficar com você. Com muito medo, muito mesmo, eu fui dormir sozinha. Os pensamentos vieram e eu me forcei a ignorá-los. Eu chorei um pouco, mas pela primeira vez eu quis estar bem na manhã seguinte. Então eu dormi, e acordei bem. Sozinha e bem. Não foi isso o que pedi, mas era isso que eu precisava.