Insônia
Estou pensando em você e não consigo dormir. Mas não de um jeito romântico como as pessoas costumam contar. É péssimo, e eu odeio me sentir assim. Esse frio na barriga, a inquietação da mente, o corpo trêmulo. O pior é que não posso culpar alguém além de mim por essas sensações, não posso simplesmente perguntar o que eu fiz para merecer isso. Eu sei exatamente sobre o que esse castigo se trata.
É estranho porque a situação atual explica muita
coisa, como o fato de eu me esforçar em vão para ter conexões profundas com a
pessoa que está, provavelmente, dormindo agora do seu lado. A única conexão que
eu anseio é a nossa.
Ao passo que me sinto fria e culpada, também me sinto
ligeiramente vangloriosa por ter a afirmação de que os olhares eram mútuos,
mesmo sutis. De que os toques arrepiavam, mesmo que breves. De que a vontade
existia em ambos, mesmo não verbalizada. E eu nunca, nunca, verbalizaria. Por
medo de não ser recíproco e sim apenas uma ideia estúpida da minha cabeça. A verdade é que eu devia temer a reciprocidade, porque isso vai assombrar a gente, como
está me tirando o sono hoje.
Pra passar o tempo, me divido entre reviver o que aconteceu e fantasiando o que ainda vai acontecer. Revivo você me chamando pra
gente tomar algo mais forte, porque aparentemente estávamos sóbrios demais. Até que as
palavras começaram a soar com uma duplicidade de sentidos que me deixou
confusa, mas você não respondeu diretamente quando eu perguntei o que aquilo
queria, de fato, dizer.
Ao invés disso continuou me olhando com os olhos cheios de
delírios e me puxou pela cintura. Foi aí
que eu entendi o que aquilo queria dizer mesmo sem você, de fato, dizer. Mas, felizmente, apesar das nossas doses de vodca viradas no meio daquilo tudo, eu
ainda sabia o certo a ser feito, ainda que desejando lá no fundo uma situação
diferente.
E essa situação diferente ficou pairando na minha imaginação, até agora, quando voltamos a estar sóbrios. Você pediu desculpas e tentou deixar pra lá, como quem joga a decisão no colo do outro. Os meus termos são inegociáveis e os devaneios são uma incerteza que me frustra. O que me conforta é pensar que: se meu castigo veio antecipado em forma de insônia, significa que as minhas expectativas para o nosso futuro já deram certo.
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