Quando foi que eu me perdi?

Eu me olho no espelho
e me pergunto onde está aquela garota.
Que sonhava,
que acreditava estar predestinada à coisas grandiosas,
que pensava não ser só mais uma.
Queria mudar o mundo,
ou uma pequena parte dele,
ser lembrada com algum tipo de honra.

Mas agora eu não consigo mais enxergá-la no reflexo.
Às vezes eu tento,
me esforço,
me forço a me lembrar de onde e
quando foi que eu me perdi.
Só que talvez eu sempre tenha estado perdida,
a diferença é que antes haviam pessoas
me fazendo me sentir especial.

Como o meu avô,
que mostrava meus desenhos com orgulho
dizendo: ''olhe só o que ela desenhou!".
Como aquela professora,
que leu meu texto para todos da turma
dizendo: ''olhe só o que ela escreveu!".
Como aquele cara,
que tocou as minhas mãos com carinho
dizendo: ''você merece o mundo!".

Eu não tenho mais essas três pessoas.
Meus desenhos já não são tão dignos de serem enxergados,
meus textos já não são tão dignos de serem lidos,
e minhas mãos,
que já não são tão dignas de serem tocadas.
Porque eu não acredito mais ser merecedora de nada grandioso
e no final sou só uma garota comum.
Morando em um lugar longe demais para as pessoas visitarem,
saindo com um cara experiente demais para haver um interesse genuíno,
trabalhando em uma empresa engessada demais para ter algum progresso.

Penso, ainda olhando para o espelho,
que o que eu mais queria era voltar a ter aquele brilho nos olhos
e a ver a vida com um pouco mais de propósito.
Parece que não estou conseguindo respirar
ou que estou sendo sufocada por tanto ar
que as respirações me engolem e eu só posso ceder.
E enquanto eu não volto
vou tentando viver um dia de cada vez
reprimindo aquela vontade
de fazer tudo parar.

Nota: esse texto foi retirado de uma conversa antiga entre paciente e psicanalista, não havendo conexão com os sentimentos atuais. Ainda assim, é sempre reconfortante lembrar dos dias ruins para que os dias bons tenham mais sentido quando você está em um processo de reestabelecer sua saúde mental.

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