A carta

Há dez meses eu escrevi uma carta.
Sempre me imaginei escrevendo ela.
Seriam palavras de despedida, mas na verdade se tornou um pedido de ajuda.

Eu evito essa carta.
Não é como se eu me arrependesse de ter escrito.
É que tanta coisa muda em dez meses e eu não quero revisitar quem eu fui. 
Não quero lembrar a minha mente do que eu sentia e correr o risco de sentir de novo.

Mas hoje eu revisitei. Com muita hesitação, deu certo.
Acho que faz parte do processo cutucar essa ferida,
abraçar esse leão que às vezes ainda ouço rugir.
Bem de longe, bem fraquinho.

Até coloquei a carta na minha lista de coisas para falar com a minha terapeuta,
espero que ela não se desaponte.
Quero escrever novas cartas.
Perdoar quem eu fui há dez meses e há dez anos.

Percebo que as feridas não se curam, não pra mim.
Elas vão estar ali,
e vez ou outra eu preciso cutucar,
trocar o curativo,
e me lembrar que fingir que elas não existem,
não é nenhum remédio.

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